As mulheres dedicadas a musica, chamadas de Shemayet, podiam também servir as divindades masculinas e também transformar-se em escribas. Mas era a mulher a encarregada de tocar o sistro, cujo som acalmava as divindades e permitia que a mente do homem descansasse. As sacerdotisas dedicadas a Hathor, divindade que representa a sexualidade feminina, o amor, a musica, a dança, e cujas festividades eram de embriagues, origem das festas dedicadas a Baco, tinham outras funções sociais. Elas traziam a fertilidade e ensinavam as artes do amor aos homens que iam casar, para que aprendessem a dar prazer a futura mulher.
A leste, sobre a colunata do grande pátio, encontra-se um pequeno templo dedicado a Imhotep, o sumo sacerdote que construiu a pirâmide escalonada de Saqqara, e deixou os planos e desenhos dos templos de Dendera e Edfu. Neste primeiro pilono, assim como na maioria dos templos, está talhada a figura do faraó, neste caso, Ptolomeu XII, golpeando com sua vara de poder, os chamados nove inimigos do Egito. Era uma espécie de superstição gráfica simbólica que mantinha afastadas as forças do caos e proclamava a vontade do faraó, mediador entre o homem e a divindade, de manter a ordem no Egito e em todo o cosmo. O confronto entre a ordem e o caos é uma amostra da maneira dual de como os egípcios encaravam o universo. Assim o país também tem duas regiões; o grande vale do Nilo, chamado de Alto Egito, e o delta em que se abre quando chega ao Mediterrâneo, chamado de Baixo Egito. O faraó unificava essa dualidade, usava duas coroas para indicar seu domínio sobre essas duas regiões.
Assim também unia o humano com o divino, pois o seu corpo era tido como o molde que continha o KA-Real, um espírito responsável pelo Egito que reencarnava de faraó em faraó. Por isso o faraó, o mais importante de todos os egípcios vivos, representava o nível de consciência alcançado pelo povo, durante o seu reinado. Era como um deus menor, ao ser sempre a reencarnação do espírito designado por Deus, para manter o Egito organizado. O novo pilono também tem dois mastros, onde ficavam as bandeiras. Suas duas torres deveriam ser simétricas, unidas em um pórtico, no entanto, aqui em Philae, a torre esquerda tem uma porta que leva diretamente a capela dos nascimentos. Posteriormente, no período da iluminação romana, um pórtico foi anexado ao primeiro pilono. Nesta capela celebrava-se o nascimento das divindades e de seus filhos, como Horus e a maternidade de Isis, nas datas em que sua representação no céu, Sírio, reaparecia anunciando o novo ano, o solstício de verão e a enchente do Nilo. A capela dos nascimentos, com suas colunas atóricas, substituiu o templo principal como observatório astronômico, antes dos romanos construírem as colunatas que dão forma ao pátio trapezoidal. Nenhuma sociedade deu as mulheres o valor dado pelos egípcios. Sua sociedade era igualitária.
Isto se devia a sua concepção filosófica de Deus. Em ações legais. Não houve, no entanto, nenhuma mulher em função administrativa. Eram os homens os encarregados da manutenção da ordem. Era o faraó quem governava, e eram homens os oficias que administravam o império. Existe uma lenda que afirma que o direito ao trono era transmitido através da linha feminina, que era a princesa real a herdeira legal do trono. O homem por ela escolhido como marido se convertia no faraó reinante. Isso obrigaria todo rei, sem importar que fosse o filho de seu predecessor, a ter que legitimar seu direito ao trono, casando-se com sua irmã ou meio irmã. No entanto, não existe uma linha direta de herdeiras que confirme essa lenda. Sabe-se que os faraós eram polígamos e que as esposas principais de Tutmosis III, Amenotep II e Amenotep III não eram de família real. Na realidade, os faraós do Egito que se casaram com irmãs, ou meio irmãs, o fizeram com o intuito de imitar as divindades, que como Isis e Osíris, ou Seth e Nephtys, eram irmãos e ao mesmo tempo cônjuges. Ao casar-se com sua irmã ou sua filha, o faraó se distanciava dos súditos, que nunca se casavam assim, e se colocava ao nível das divindades, reafirmando seu direito divino de reinar. Uma mulher faraó não era uma alternativa normal no Egito.
A faraó Hatsepsut chegou ao trono como regente de seu enteado Tutmosis III, filho de seu marido e meio irmão Tutmosis II, com outra mulher. Uma vez no poder, ela se vestiu como homem e assumiu o poder do faraó. Após seu reinado, sua imagem como faraó foi sistematicamente apagada dos registros para eliminar da memória uma mulher que se apoderou do trono de forma imprópria. No entanto, suas imagens como rainha ainda continuam intactas. Em apenas quatro ocasiões, durante os 300 reinados, as mulheres se transformaram em faraós do Egito, por razões extraordinárias e como ultimo recurso de suas famílias para tentar manter a ordem. A primeira foi a rainha Nitiriket, que reinou ao final da VI dinastia, no começo do caos, que hoje se chama de Primeiro Período Intermediário. A segunda foi Nefruzophk, em situação semelhante, ao final da XII dinastia. A terceira foi Dausreth que reinou depois do caos causado por Moisés, com suas dez pragas, quando seu marido, Seti II, morreu afogado cruzando o Mar Vermelho.
E a quarta foi Cleópatra, que matou seu irmão antes que o Egito se transformasse em província romana. Todas tinham em comum serem rainhas do Egito por terem se casado com o faraó e chegarem ao trono pela morte destes, em circunstancias extraordinárias. Os sacerdotes podiam se casar, mas só lhes era permitido uma mulher. Os demais homens, incluindo o faraó, podiam ter quantas quisessem, ainda que a maioria optasse por apenas uma. No Egito existia a separação legal em caso de fracasso do casamento. O homem era obrigado a devolver todas as propriedades e riquezas que a família da mulher havia dado em dote, mas uma parte das suas para os filhos que tivessem tido. Para tanto, somente tinham que dizer, perante o sacerdote do templo e testemunhas das duas famílias, as seguintes palavras: “Eu me separo de ti como mulher, ou marido, e me afasto de ti para sempre. Renuncio a meus direitos sobre ti, que a vida te de outro companheiro ou companheira, no lugar a que queiras te dirigir.”. Cruzando o novo pilono, chega-se ao antigo pátio das galerias, agora rodeado pela fachada original do templo, o corredor direito com suas dez colunas, e ao lado esquerdo, a nova capela dos nascimentos.
Neste pátio, encontra-se o marco com o cartucho de Ptolomeu e Cleópatra, que serviu a Champollion para decifrar o decreto escrito em hieróglifos grego e demótico, na famosa pedra da Rosseta. O decreto obrigava a render-se culto a pessoa do faraó. Como isso é interessante para entender os templos dos Ptolomeus, quando este templo foi restaurado, vamos dar um resumo a seguir: Decreta-se que todos os templos do Egito devem destinar em seu interior, ao lado dos santuários dos deuses, um lugar que mantenha uma imagem em ouro do eterno rei Ptolomeu, o amado de Ptah, o deus Epifanio Eucaristus, diante do qual deve-se colocar a imagem da divindade principal do templo, entregando-lhe a arma da vitória.
Tudo deve ser feito com o estilo egípcio, e os sacerdotes, com suas vestimentas sagradas, devem prestar adoração três vezes por dia, realizar todos os rituais em sua honra, e nas festividades egípcias carregá-lo nas procissões, como fazem com os outros deuses. Para os sacerdotes egípcios, o homem é um animal, até poder controlar conscientemente as condutas automáticas geradas pelo instinto. As reações automáticas do instinto permitem aos animais e aos homens ignorantes, procriar, manter e defender a vida. A atração pelo sexo oposto impulsiona a geração da vida. Os desejos são um mecanismo da natureza que indicam uma carência a ser suprida para manter a vida. O medo impulsiona a fugir ou a agredir em defesa da vida. Os iniciados aprendiam que os instintos são uma limitação para a realização espiritual superior. A Escola de Mistérios tinha templos especializados em gerar consciência e dar o treinamento necessário para a conscientização sobre tais condutas. O instinto de agressão era controlado em templos como Kom Ombo.