A indústria farmacêutica está a “explorar” o receio instintivo da morte e da doença para aumentar as suas vendas, segundo um relatório divulgado numa conferência médica internacional que decorreu no mês de Abril na Austrália. O relatório, resultado de um estudo levado cabo por um médico e um jornalista especializado nesta área, ...
denunciou que grandes empresas são responsáveis por muitas prescrições desnecessárias de medicamentos. Mas, mais grave do que isso, chegam ao ponto de promover tratamentos para doenças cuja existência nem sequer está comprovada. Os autores do estudo, David Henry e Ray Moynilhan, acrescentam que as consequências destas práticas vão desde o desperdício de recursos financeiros, que poderiam ser utilizados no combate a doenças verdadeiramente graves, a problemas de saúde motivados pelo uso indevido de medicamentos.
O relatório denuncia ainda a existência de uma verdadeira teia de influências não oficial, montada entre a indústria farmacêutica e grupos de media e publicidade. A estratégia consiste em criar a necessidade para depois se apresentar a solução milagrosa.
Mais frequentes, ainda segundo os autores deste estudo, são os diagnósticos errados de doenças verdadeiras , devido às campanhas que convidam os médicos e os consumidores a estarem "atentos" a sinais. Nesta lista incluem-se desde comportamentos normais das crianças, que são confundidos com hiperactividade e perda de atenção, aos problemas erécteis de homens com mais de 40 anos.
Médicos e Indústria farmacêutica
Robert A. Heinlein - Estima-se que a indústria farmacêutica gaste, apenas nos EUA, algo em torno de 20 bilhões de dólares em propinas aos médicos. Isso são números oficiais, estima-se que o valor real possa ser até o dobro. Existe 1 representante para cada 6 médicos. Representante este, que passa o dia inteiro visitando médicos tentado convencê-los a prescrever os medicamentos dos seus patrões.
O principal alvo do marketing da indústria não é o paciente, e sim nós, os médicos. Afinal, quem prescreve os medicamentos somos nós. Quem escolhe a droga mais cara, mesmo existindo um similar mais barato, somos nós. Quem decide quantos remédios vocês vão tomar, somos nós. Quem prescreve medicamentos que muitas vezes não são necessários, somos nós. E quem paga a conta disso tudo, aí meu meu caro, este é você.
Desde a minha época de faculdade, quando começamos a frequentar o hospital e ter contato com os doentes, também passamos a conhecer a figura do representante farmacêutico. Ele sempre está lá, bancando coffee breaks, trazendo amostras grátis, nos brindando com canetas e porta crachás. Tudo para passar uma imagem do bom moço.
Conforme vamos crescendo na medicina e ganhando pacientes, o nome brinde começa a não ser o mais correto. Ingressos para partidas de futebol, viagens e inscrições para congresso, hospedagens, jantares em grandes restaurantes, grandes festas etc...
Quando eu era residente, já me ofereceram DVD players caso eu aumentasse minhas prescrições de determinado medicamento. Veja bem, eu era apenas um mero residentente recém formado. Esse na verdade, foi o dia em que abri os olhos para o jogo sujo. Esse episódio sempre me lembra os comercias de cigarro voltados para os adolescentes.
A relação médico x indústria tornou-se tão íntima que de dentro, tudo parece normal. O pensamento de muitos médicos é o seguinte: Se eu recebo os "brindes", mas não mudo minha prescrição por causa disto, então não há mal nenhum. Não conseguem perceber o tamanho conflito de interesses que isso representa.
Realmente muitos médicos não mudam suas condutas por causa da pressão da indústria. Eu mesmo durante muito tempo aceitei amostras grátis. Juntava todas em um saco e levava para os hospitais públicos em que trabalhava e distribuía entre meus pacientes. Nunca abri mão de prescrever genéricos ou os medicamentos mais baratos. Achava que estava ajudando. O problema é que 20% do preço dos medicamentos são para cobrir esses presentinhos ou presentões. A amostra grátis não tem nada de grátis.
Os congressos médicos hoje em dia parecem grandes shopping centers. Os estandes das indústrias farmacêuticas oferecem de tudo, de simples pizzas, camisas, chinelos Havaianas até equipamentos de golfe, viagens e carros zero.
Esse ambiente é extremamente propício aos desonestos. A indústria sabe exatamente o que nós médicos prescrevemos. Já recebi alguns representante que vinham com a frase: " poxa doutor, no mês passado o senhor não deu aquela força para o amigo aqui." Os representantes tem acesso a suas prescrições e sabem exatamente o que nós prescrevemos. Quem entra no jogo, se dá muito bem. A industria é extremamente bondosa com quem colabora. E muitos colaboram.
O pior é que a indústria também interfere nos trabalhos científicos. Quantas drogas estão sendo retiradas do mercado por causarem efeitos colaterais graves, que não foram detectados nos estudos preliminares? Quantas drogas novas são lançadas cheia de pompa, quando na verdade são imitações de medicamentos que já existem e são mais baratos? A literatura médica está sendo invadida por trabalhos cheios de conflitos de interesse.
A indústria farmacêutica é um colosso, uma das mais lucrativas do mundo. Como qualquer empresa capitalista visa o lucro acima de tudo. O problema é que sua atividade está relacionada com uma necessidade básica do ser humano, a saúde. Em todas as outras atividades, eu posso escolher quando e o que comprar. Nos casos do remédios, os consumidores não tem escolha nem de quando vão precisar, nem qual marca preferem comprar. Quem diz isso é o médico. E não adianta argumentar. O conhecimento médico é muito específico e técnico para leigos questionarem. Qualquer médico vai te enrolar, se ele assim quiser.
Tenho visto nos últimos anos uma deterioração da classe médica. A imagem do médico de hoje está muito longe da que era há 1 ou 2 décadas. E isso é responsabilidade nossa. Ficamos tão frustrados com o pouco reconhecimento, a intensa carga horária e a baixa remuneração obtida após 10 anos de intensa formação, que estamos vendendo nossa ética e nosso nome em troca de "brindes".
Hoje somos considerados farinha do mesmo saco: médicos e empresas que não dão a menor bola para o paciente, como a indústria farmacêutica e planos de saúde. Quem quiser se aprofundar um pouco mais no assunto sugiro o livro : "A Verdade Sobre os Laboratórios Farmacêuticos", Márcia Angell. Editora Record.
Fonte: http://www.grifo.com.pt/
http://www.mdsaude.com/2008/10/mdicos-e-indstria-farmacutica.html